sexta-feira, 12 de agosto de 2016

 OUTRO LADO FRUSTRANTE DAS OLIMPÍADAS
Jeremias Macário

    A princípio imaginei escrever sobre a necessidade de criação de uma política   municipal   própria   para   a   nossa   cultura   (temos   apenas   ações pontuais  em   Vitória   da   Conquista),  mas   como   os  jogos   olímpicos  são coqueluche do momento, arrisco-me dar meus “pitacos”, sabendo que serei apedrejado porque a maioria prefere não ver o outro lado do espetáculo.   Continuamos com o fardo do complexo de “vira lata”, ou de inferioridade,como   falava   Nelson   Rodrigues,   não   por   culpa   dos   nossos   atletas.   Os comportamentos,   os   fracassos   e   atitudes   estranhas   anti-olímpicas   são reflexos dos despreparos, da incompetência e dos desvios de caráter dos dirigentes que conduzem o processo.     Para não ser extenso vou citar apenas dois “expoentes” dos esportes brasileiros. O presidente da Confederação Brasileira de Futebol-CBF, o José Maria  Marim,  está tão comprometido com as   investigações  sobre irregularidades no âmbito da entidade e da FIFA que não pode nem viajar para o exterior porque pode ser preso. O outro é o Carlos Arthur Nuzman, o imperador ditador-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro - COB, há mais de 20 anos no poder.   O ditador do COB foi acusado desde 2007, ano do Pan-Americano do Rio, de desvio de recursos públicos e de falta de transparência de suas gestões. O orçamento para o Pan sofreu um acréscimo de 1.000%. O legado deixado pelo evento: autódromo demolido e estádio Nílton Santos sem condições hoje de ser utilizado.   Agora vamos direto ao que  sempre acontece e está acontecendo nos gramados e nas Olimpíadas Rio 2016. Primeiro, o evento é só para turista empolgado   ver.   Aliás,   o
  estrangeiro   não   conhece   o   Brasil   real,principalmente depois que as forças armadas saírem do Rio e os bandidos voltarem aos seus postos de violência, tráfico e assassinatos.  Os nossos atletas, com raras exceções, não contam com o devido apoio do Estado em termos de formação física, técnica e psicológica, dai os vexames comportamentais dentro das linhas de combate. Fiquei horrorizado com a atitude   de   um   judoca   que   ao   perder   se   negou   a   cumprimentar   seu adversário, respondendo com gestos agressivos.
  No polo aquático vi também a imagem de uma menina socando a cabeça de uma italiana durante uma partida. No futebol, o capitão Neymar mais parece um menino birrento que se irrita com o outro porque o cara tomou o seu brinquedo e melou sua jogada individual. É bom que se diga que nesta fase os jogadores brasileiros só são cordiais quando vencem.   No caso do futebol, a torcida descarrega toda sua fúria nos jogadores,mas, por motivo emocional e irracional, não vê o outro lado da face e da moeda podre que são os dirigentes, que sem moral, comandam instituições esportivas importantes. Essa situação se arrasta há anos. No COB existe uma ditadura derrotada.      Junte-se  a tudo isso à  crise política,  econômica e ética que o país atravessa e ai vamos chegar à conclusão de que o Brasil não dispõe de condições estruturais para sediar um evento internacional desta magnitude.Não   vou   nem   tratar   aqui   das   questões   da   educação,   da   saúde   e   da segurança. Além do mais, o preparo dos atletas está abaixo da média em comparação com as principais potências dos esportes.   Nas diversas modalidades olímpicas, que contam com apoio precário do Estado, o que observamos em relação aos países desenvolvidos e até em desenvolvimento   é   uma   enorme   diferença   social   e   econômica.   É   só comparar a judoca Rafaela Silva com o norte-americano Michael Phelps,recordista de medalhas na natação. São milhas e mais milhas de distância em tudo. Nem precisa falar muita coisa.    Até quando vamos continuar achando que um quinto, sexto, sétimo ou oitavo lugar numa natação, numa  ginástica   ou  em outra modalidade  é fantástico na voz do Galvão Bueno, alegando apenas que os meninos ou as meninas são novos? Será que em quatro anos estamos evoluídos no mesmo nível dos outros, ou iremos  permanecer nos  mesmos  lugares e até em posições inferiores?  A grande maioria dos atletas de outras nações quando vai a uma olimpíada não é para curtir e passear, mas encarar uma competição de trabalho. Não basta só participar e competir. O mais importante é ganhar uma das três medalhas.        Sinceramente, vejo nos rostos de muitos dos nossos atletas mais um semblante de festa do que vontade expressa, disciplina e determinação para vencer.   Não   é   propriamente   culpa   deles   como   já   me   referi   aqui.   As
pingadas medalhas são mais resultado do talento e do esforço individual de alguns do que de um programa de incentivo governamental ao esporte  Justamente, por falta de treinamento contínuo e apoio econômico, social e psicológico por  parte dos  governantes, eles terminam, como  se diz  n jargão   “amarelando”   na   hora   do   vamos   ver   quem  é   o   melhor. Isso   é sintomático. O resto é festa da mídia globista que não mostra o outro lado e faz estardalhaço e sensacionalismo com a vitória dos outros, como no caso específico do Phelps.      Muitos   vivem   em   estado   de   pobreza   com   suas   famílias,   passando necessidade porque os governantes não investem e não dão o devido valorao esporte e à cultura. Enquanto isso, do alto do seu poder vitalício, o COB impõe   sua   ditadura   e   ninguém   pode   criticar   senão   será   eliminado   da competição   O   que   vemos   são   atletas   mendigando   ajuda   para deslocamentos, abrigo e alimentação.    Sem   opção   de   medalhistas,   os   torcedores   brasileiros   fazem  barulho,algazarra, vaiam e aplaudem outros países. Para o mundo lá fora passam uma imagem de falta de etiqueta e educação. Na verdade, a nossa torcida é mera expectadora das vitórias dos outros.  “Há esportes - os nossos incultos torcedores desconhecem - que o silenciosa plateia é obrigatório: o tênis, o tiro, o hipismo, o levantamento de peso,o golfe, saltos de trampolim e o sinal de largada no atletismo (provas de pista)   e   na   natação”-   colaboração   do   nosso   companheiro   e   camarada jornalista Carlos Gonzalez.    Bem que no fundo todos queriam mesmo era ter seus representantes nacionais no pódio para compartilhar com eles o orgulho das vitórias e do desempenho aguerrido de suas equipes. É uma frustração total! O brasileiro é cheio de  esperança,   mas   vazio   em termos de indignação. A saída   é extravasar o quanto pode e aplaudir ou vaiar os heróis de fora.

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