segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A MÍDIA, O PÚBLICO E A FALTA DE
 CRÍTICA NAS OLIMPÍADAS
Jeremias Macário

Se as Olimpíadas foram programadas no Brasil com capricho para que tudo desse certo foi mais por se tratar de um evento internacional com o fim precípuo de desfazer a imagem negativa do país lá fora. O público interno foi beneficiado por consequência e não por respeito a ele. Por que, só para citar um exemplo, continua a violência nos estádios de futebol? Rezemos para que toda estrutura não comece a ser desmontada e vire um grande elefante branco logo depois dos jogos paraolímpicos!

  Concordo aqui com meu amigo e jornalista Carlos Gonzalez que demonstrou através de números, sem subterfúgios, que o resultado do Brasil nas competições foi pífio, principalmente quando feito um paralelo entre os investimentos e as medalhas adquiridas. Qual o índice de produtividade de 17 medalhas para 19 em quatro anos? Aliás, em se referindo a outros setores da nossa vida, produtividade é um palavrão que não existe no dicionário do Brasil.
  Passada a festa, voltamos a cair na amarga realidade das escolas com instalações precárias, do ensino deficitário, do amontoado de doentes nos corredores dos hospitais, das quilométricas filas do SUS para se marcar um exame médico, da violência nas ruas, da falta de justiça aos mais necessitados, das desigualdades sociais e do roubo escancarado aos cofres públicos, só para ficar nestas mazelas.
Esta grande mídia das emissoras comandadas por sete famílias é quase toda ela desprovida de postura crítica com a qual faz as pessoas questionarem e se indignarem com as mentiras. Ela não informa, mas deforma e manipula uma plateia inculta que aprendeu, como papagaios, a dizer a mesma coisa de sempre, sem pensar e refletir sobre os fatos e acontecimentos. Poucos são dados ao contraditório. Quem faz isso é mal visto. Ainda esta semana li algo que dizia que o brasileiro
retomou sua autoestima com o “êxito do evento”. Só se foi para eles mesmos.
  Aliás, neste país nosso continental, belo e rico, só se produz chavões, frases e enunciados padronizados dentro do politicamente correto encomendado. Todos vão de carreirinha, conduzidos como gado que come do mesmo pasto da mídia. A grande maioria balança a cabeça e bate palmas para apoiar as ordens dos patrões elitistas e conservadores. Os ufanistas aparecem para acender a pira de uma autoestima que eles mesmos fizeram questão de apagar ao longo dos anos com a vil exploração.
  Precisamos de uma mídia que faça e “obrigue” as pessoas a pensarem, a refletireme a entenderem que “nem tudo que reluz é ouro”. Estão nos enfiando goela abaixo um jornalismo tipo arara, emplumado de adjetivos e superlativos, sem massa crítica. A galera ovaciona.
  As Olimpíadas, por exemplo, foram organizadas muito mais para satisfazer o público externo que o interno. Se os eventos programados, as obras e atividades desenvolvidos em prol dos brasileiros tivessem um toque de seriedade de pelo menos 60 a 70% do que foi preparado, realizado e cumprido pelas Olimpíadas, já seria um grande feito e o Brasil seria outro em termos de satisfação do seu povo.
  Depois que os estrangeiros se vão, oxalá esteja errado, tudo ou quase tudo é desfeito e ficamos aqui a ver navios. Os brasileiros, na verdade, só foram beneficiários desses privilégios de organização (houve inúmeras falhas), ordenamento e segurança porque se tratou de um evento internacional. Como se diz na gíria, pegamos a rebarba ou pongamos no trem.
  Depois das festanças, voltamos ao ponto de antes, com algumas exceções nos casos dos transportes públicos e requalificação de praças e avenidas em torno do evento no Rio de Janeiro. No mais, voltamos a conviver com as injustiças, com as obras inacabadas, com as corrupções e com as promessas vãs dos políticos.
  Estamos atolados e nos afundando no retrocesso das conquistas trabalhistas e sociais, enquanto nos digladiamos com idiotices e imbecilidades em definir e conceituar o que é direita e esquerda, expelindo ódio e intolerância. A grande mídia descompensa e tendenciosa reverencia e idolatra seu bolo todo colorido por fora. A plateia histérica aplaude sem perguntar sobre os ingredientes e o que tem dentro dele que tanto encanta.

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