A “cultura” na aldeia
Por Nando da Costa Lima
Nós brasileiros temos o péssimo hábito de rotular as pessoas, principalmente quando se trata de pessoas ligadas à arte de alguma maneira. O artista brasileiro é tratado como doido até a hora que faz sucesso. O poeta é quem mais sofre, este come o pão que o diabo amassou. Além de passar a vida no anonimato, morre levando a fama de louco ou idiota. Acho que é por isso que ele é tão inibido, nunca mostra seu trabalho, com medo daquela risadinha desconcertante dos que se dizem entendidos.
É terrível, mas temos que admitir que somos os únicos a achar que poesia é sinônimo de loucura. O brasileiro pode ser razoável em tudo, menos em poesia, nesta ele tem que ser ótimo, caso contrário seu trabalho é desprezado, sua poesia é apenas lembrada como uma loucura de um degenerado que se diz poeta. Ele passa a ser um objeto de gozação para a comunidade. As pessoas antes de tratarem um poeta como idiota, deveriam lembrar que aquela poesia que lhe causou riso, foi um produto da sensibilidade, um desabafo em versos. Por menos que lhe toque é uma parte de quem a fez. Sei que é natural criticar qualquer trabalho artístico, a opinião é válida desde que não seja manipulada ou predatória. Não encontro explicação para a marginalização do poeta, as pessoas
deveriam olhá-lo com mais respeito, afinal ele está dando algo de si visando agradar a comunidade. Em vez disso, é machucado e sofre mais com as agressões que qualquer outro profissional, pois para um poeta a maior tortura é o desprezo à sua poesia, é como maltratar seu filho! O pior é que a maioria dos que criticam são completamente nulos no assunto, vão pela cabeça dos que se acham experts. Devido a esses predadores que não criam nem admitem nada de novo no seu universo cultural, a rica poesia brasileira torna-se a cada dia mais difícil de ser divulgada em termos regionais. Essa concepção medieval de elitizar a poesia torna difícil a ascensão do artista, tudo tem que ser de acordo aos padrões estabelecidos pelos responsáveis por arte em nosso país, que geralmente são elitistas e egocêntricos. O artista é diretamente influenciado pela maneira de pensar dessa gente, ou seja, se você mora onde o responsável pelo setor cultural é apaixonado por poesia clássica, você tem que rezar pela cartilha dos clássicos de sua preferência. Devido à falta de respeito ao estilo de cada um, grandes talentos são isolados culturalmente e muitos ainda o serão até que o brasileiro conscientize-se que opinião é algo muito particular. Você tem que ler as obras, não às opiniões dos críticos. Deixar de gostar de uma obra simplesmente porque uma pessoa que se diz mais entendida que você não gostou é um grande erro. Opinar de acordo à crítica é demonstrar falta de personalidade, achar o que os outros acham para enquadrar-se no rol dos entendidos é ridículo. Mas também, graças a Nossa Senhora das Vitórias ainda tem gente que se preocupa com a poesia regional. Aqui em Conquista temos Gil Barros e Sabiá que todo mês fazem um sarau com poetas da terra no Recanto do Sabiá, uma boa iniciativa e uma boa pedida pra quem gosta de poesia.
Conquista é terra de poetas, bons poetas… Como aquela linda música que Milton canta e que é a cara do planalto da Conquista: “Em minha cidade tem poetas, poetas, poetas…” (Guardanapos de papel)
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