Saindo da linha
Nando da Costa Lima
Ele então se lembrou que podia lançar mão do espiritismo (apesar de ser completamente
nulo no assunto, como em tudo), convocando um médium que recebesse Moisés. Pra isto mandou chamar o mais conceituado do país que com muita paciência explicou ao governador que não era possível tal coisa, afinal, Moisés já deveria estar em outro plano espiritual, a estas alturas deveria ser parte do “Astral Superior”, pois já haviam passados mais de dois mil anos de reencarnações, que na sua passagem citada no livro sagrado ele já era um espírito evoluidíssimo, quanto mais agora. O governador perguntou se ele não podia dar um toque em Deus, já que Moisés tava tão ocupado. O médium explicou com toda paciência que todo espiritualista tem com os menos inteligentes que “Deus é um número dotado de movimento, que pode ser sentido, mas não pode ser demonstrado”. Pensou até em aconselhar em aconselhar um sanatório de doenças mentais, mas lembrou a tempo que os poderosos não enlouquecem, ficam excêntricos. O governador se interessou e quis saber quando ele estaria nesse plano espiritual tão evoluído que não precisaria pedir ajuda a merda nenhum, nem pra se reeleger. O médium perdeu a paciência e falou que pela burrice ele teria que morrer e reencarnar pelo menos 1800 vezes pra chegar lá. Isso se tirasse a ideia do trem de ferro da cabeça. O governador se retou e queria cassar o médium por agressão ao patrimônio nacional (ele). Frisou que se fosse no tempo da linha dura ele iria ter que receber até Cristo se houvesse necessidade, mas se lembrou que os tempos são outros e sossegou. Mandou dar só uma dúzia de bolos e apertar a língua com alicate pra nunca mais chamar autoridade de burro, depois soltar.
No outro dia, reuniu a imprensa e declarou: “Se a ferrovia não for concluída, a culpa é de um tal de Moisés. Mas eu já tomei as providências e assim que encontrar o homem eu meto ele na cadeia pro resto da vida. Me falaram por alto que ele tava querendo morar em Canaã, amanhã mesmo eu vou pra Poções disfarçado. De lá eu pego a marinete de Seu Leôncio, se ele tiver por lá eu acho…”.
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