sábado, 12 de novembro de 2016

O amuleto da sorte
Nando da Costa Lima

NandoNa casa de Simplício as coisas iam de mal a pior, o azar tinha feito moradia ali, a situação era deprimente, parecia trabalho feito. Apesar dele não ser supersticioso, apostava como aquele azar tinha começado depois do aparecimento daquele gato preto em sua casa. Já tinha gasto três rezadores e um pé de arruda, novenas ele fez pra tudo que é santo, até os que Castelo cassou foram homenageados, mas de nada adiantou. O desespero estava estampado na cara de Simplício. Também pudera: a filha, aquela galinha safada, fugiu com uma banda, e não é banda de rock que só tem seis componentes; a banda com que ela fugiu é daquelas que toca em coreto, é difícil uma com menos de 20 músicos. O filho abandonou a cidade pra ser “guru” numa comunidade. A sogra invocou que a única maneira de rejuvenescer era através do contato direto com a juventude: os meninos faziam filha pra transar com a velha assanhada, era uma média de 20 por dia. A esposa piorou de tudo, era o dia todo meditando em frente a uma imagem de Buda. Depois da confirmação de Pai Marcel Galego (filho de um marinheiro francês com uma baiana que vendia acarajé no porto) que ele tava sendo vítima de mau olhado, sua casa virou um depósito de patuá contra mau olhado, parecia um mini Mercado Modelo. Ele já tava ficando verde de tanto tomar banho de ervas pra afastar a urucubaca, mas parecia que só piorava. Era difícil ele sair do banho sem tomar um tombo, parecia uma múmia de tanto curativo, pois além dos tombos ainda tinha a surra diária dada pelo curador pra espantar “mau olhado”. Simplício tava de fazer pena, era o protótipo do homem fracassado, parecia um defunto ressuscitado contra a vontade. Na casa não havia diálogo, um só se dirigia ao outro pra brigar, e era
briga mesmo, como daquela vez que ele proibiu a sogra de trazer menino pra dentro de casa. A velha quase mata ele de porrada, se não fosse três rapazinhos que saíram debaixo da cama e apartaram ele talvez não escapasse vivo. Nesse dia deu até polícia, mas a situação foi contornada. Simplício reconsiderou e entrou em acordo com a sogra conseguindo que ela fosse morar em frente ao Tiro de Guerra. De repente ele teve um sinal de melhora: sua esposa que há mais de um mês não saía de frente da imagem do Buda de uma hora pra outra passou a se interessar pelos problemas da casa, principalmente pelo quarto do pai Marcel que a essa altura já era hóspede permanente de Simplício. Ele já sabia todos os gostos do pai de santo, e o sacana era bom de garfo. Seus gosto era bem diferente dos pais de santo tradicionais, detestava dendê e caruru pra ele era comida de engordar preso. O que ele gostava mesmo era da culinária francesa, gostava tanto que substituiu as tradicionais comidas de santos por pratos de sua preferência. Na casa de Simplício as coisas iam de mal a pior, o azar tinha feito moradia ali, a situação era deprimente, parecia trabalho feito. Apesar dele não ser supersticioso, apostava como aquele azar tinha começado depois do aparecimento daquele gato preto em sua casa. Já tinha gasto três rezadores e um pé de arruda, novenas ele fez pra tudo que é santo, até os que Castelo cassou foram homenageados, mas de nada adiantou. O desespero estava estampado na cara de Simplício. Também pudera: a filha, aquela galinha safada, fugiu com uma banda, e não é banda de rock que só tem seis componentes; a banda com que ela fugiu é daquelas que toca em coreto, é difícil uma com menos de 20 músicos. O filho abandonou a cidade pra ser “guru” numa comunidade. A sogra invocou que a única maneira de rejuvenescer era através do contato direto com a juventude: os meninos faziam filha pra transar com a velha assanhada, era uma média de 20 por dia. A esposa piorou de tudo, era o dia todo meditando em frente a uma imagem de Buda. Depois da confirmação de Pai Marcel Galego (filho de um marinheiro francês com uma baiana que vendia acarajé no porto) que ele tava sendo vítima de mau olhado, sua casa virou um depósito de patuá contra mau olhado, parecia um mini Mercado Modelo. Ele já tava ficando verde de tanto tomar banho de ervas pra afastar a urucubaca, mas parecia que só piorava. Era difícil ele sair do banho sem tomar um tombo, parecia uma múmia de tanto curativo, pois além dos tombos ainda tinha a surra diária dada pelo curador pra espantar “mau olhado”. Simplício tava de fazer pena, era o protótipo do homem fracassado, parecia um defunto ressuscitado contra a vontade. Na casa não havia diálogo, um só se dirigia ao outro pra brigar, e era briga mesmo, como daquela vez que ele proibiu a sogra de trazer menino pra dentro de casa. A velha quase mata ele de porrada, se não fosse três rapazinhos que saíram debaixo da cama e apartaram ele talvez não escapasse vivo. Nesse dia deu até polícia, mas a situação foi contornada. Simplício reconsiderou e entrou em acordo com a sogra conseguindo que ela fosse morar em frente ao Tiro de Guerra. De repente ele teve um sinal de melhora: sua esposa que há mais de um mês não saía de frente da imagem do Buda de uma hora pra outra passou a se interessar pelos problemas da casa, principalmente pelo quarto do pai Marcel que a essa altura já era hóspede permanente de Simplício. Ele já sabia todos os gostos do pai de santo, e o sacana era bom de garfo. Seus gosto era bem diferente dos pais de santo tradicionais, detestava dendê e caruru pra ele era comida de engordar preso. O que ele gostava mesmo era da culinária francesa, gostava tanto que substituiu as tradicionais comidas de santos por pratos de sua preferência. Terreiro que ele mandava não entrava dendê, o negócio era molho verde, patê de fígado de ganso gordo, chantilly com morangos, etc. Ele tinha certeza de que nenhum santo ia se importar se no lugar de pipocas ele servisse caviar. Sua clientela era formado por ricos, só atendia pobre quando recomendado por rico. Agora ele estava atravessando uma fase perigosa, já tinha acabado com o dinheiro do cliente quase todo e não tinha encontrado uma solução para o caso. Ainda bem que a mulher de Simplício tava dando cobertura, fingiu até ter melhorado pro marido não mandar o pai de santo embora. Apesar de ajudar, esse romance a preocupava: Simplício era um homem violento, e naquela maré de azar que estava, ir pra cadeia era o mesmo que tirar férias, pai Marcel tinha que ficar esperto. A mulher tava demais, toda hora que o marido saía ela corria pro quarto do curador, falava pra empregada que ia tomar “passe”, a empregada também freguesa dos “passes” fingia que acreditava. E o curador lá na maior das mordomias, a única preocupação era arrumar um jeito de tomar tudo que restava de valor e fugir com a mulher do azarado. Como dizem os mais velhos: “Cabeça vazia é a morada do Diabo”, e é mesmo, tanto é que Pai Marcel já tinha pensado em mil maneiras de dar fim em Simplício. O otário tinha saído pra comprar champanhe pra Pai Marcel fazer um trabalho, a mulher aproveitou e foi ao quarto do pai de santo saber se este já havia arquitetado algum plano, ela não aguentava mais tanta espera. Ele falou que estava planejando matar Simplício de susto, e explicou o plano: no estado em que ele se encontrava, e ainda por cima com a pressão nas alturas, qualquer susto o mataria. Sendo assim, quando ele chegasse da rua Pai Marcel daria a notícia de que a esposa tinha morrido. Quando Simplício a visse na cama fingindo estar morta, bateria as botas na hora. Tinha tudo pra dar certo, além de azarado ele sofria do coração. E tudo foi realizado conforme o previsto, só que o final não ocorreu como se esperava: aconteceu que Simplício depois de tanto conviver com Pai Marcel acabou se apaixonando pelo curador, e na hora que este deu a falsa notícia da morte da esposa ele não quis nem ver o corpo, pulou pro colo do pai de santo e fazendo um carinha de virgem desamparada, exclamou com delicadeza: “Enfim sós”, e largou um beijão daqueles de desentupir pia. A mulher de Simplício (a falsa morta) notando a demora veio até a sala ver o que tinha acontecido, e quando viu o marido sentado no colo do curador fazendo uma respiração boca a boca, não resistiu: o enfarte foi fulminante. Quanto a Simplício, hoje está bem, o azar foi embora com a morte da mulher, e quando os amigos tentam desmoralizá-lo falando que ele tem um caso com um pai de santo, ele se defende categoricamente: ”Pai Marcel não é meu caso, é apenas meu amuleto da sorte, e quem achar ruim eu processo por homofobia”.

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