Briga de “dotô”
Nando da Costa Lima
Todo país considerado desenvolvido tem como prioridade a educação. Um povo educado sente necessidade de melhorar o ambiente em que vive, gerando cada vez mais progresso. Para que o brasileiro se enquadre nesse processo, é necessário se conscientizar de que nem só de médicos, engenheiros e advogados se constitui uma nação. É preciso que eduquemos nossa maneira de educar, pois se continuarmos assim, daqui mais algum tempo o mercado de trabalho vai ficar igual a briga de galo ruim: só dá empate!
O calor tava de matar: 40 graus à sombra, uma fila quilométrica de gente mal humorada; pareciam estar de mal com a vida. E foi nesse ambiente que Dr. Antônio Habeas Corpus (advogado) e Dr. José Óbito Silva (médico) quase que saíram no tapa, além de destruir uma amizade de longos anos. Quem começou o bate-boca foi Dr. Óbito Silva:
– Você pisou no meu pé, seu analfabeto.
– Analfabeto é seu pai, eu fui criado num ambiente onde a cultura é primordial. Minha vida é toda dedicada à cultura e às letras.
– Que nada, você não sabe nem o ABC com W, Y e K.
– Me respeite, eu esquentei banco na faculdade de direito, sou um advogado credenciado. Tô até pensando em fazer concurso pra juiz.
– E deve ser muito bom, passou 15 anos pra tirar um diploma que a maioria consegue em cinco. Seu diploma deve valer por três.
– Eu demorei um pouco mais pra me formar devido a problemas de saúde.
– É, seu problema deve ter sido muito sério, 8 anos de cama. Foi o quê mesmo, disenteria cerebral?
– Você tá querendo engrossar, seu açougueiro. Foi-se o tempo em que um medicozinho de merda como você podia se julgar melhor que um advogado. Quanto mais você que se formou em faculdade particular. Não deve saber nem medir pressão, a única coisa que você deve saber é o preço da consulta.
– Eu como médico devo valer por uns três advogadozinhos de sua marca. No lugar que eu chego vestido de branco, todos me reverenciam. Como você sabe, todo mundo adoece, até advogado chato.
– Eu também sou muito festejado, e não preciso de roupa de pai de santo. É só mostrar o anel e o povo só falta estender um tapete vermelho pra eu passar.
– Deve ser pra não sujar o chão.
– Cê tá querendo sair no tapa ou tá dando uma de engraçado?
– Minha educação não permite que eu saia por aí brigando, afinal de contas eu sou um médico. Se eu gostasse de briga eu seria advogado.
Dr. Habeas Corpus perdeu a paciência, aquele sacana já tinha enchido o saco. Partiu pra cima do médico, só uma surra pra compensar tanta chatice. A sorte é que na hora em que eles iam se pegando entrou um cidadão no salão e anunciou em voz alta (a cara dele não era de amigo): “Os drs. Habeas Corpus e Óbito Silva podem sair da fila, nossas vagas não podem ser preenchidas por pessoas nervosas”.
E assim será a luta pela vida num futuro bem próximo: todo mundo de canudo na mão disputando empregos na base do tapa…
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