quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A roseta e o cometa
Jeremias Macário
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Das bases espaciais, os cientistas que brincam de desvendar os mistérios e a origem do universo, pulam, se abraçam e festejam a lua de mel entre a roseta e o cometa cigano. Bilhões e bilhões de dólares são gastos em naves, foguetes e cápsulas ultrassofisticados para em breve pousar em marte e nele bilionários fazerem viagens de passeio, veraneios e até moradia. Muito lindo o amor entre a roseta e o cometa com imagens explícitas de beijos e transas com direito a longos e inesquecíveis orgasmos dos terráqueos e dos enamorados. Tudo filmado e muitos aplausos dos deuses cientistas para as comoventes cenas dos momentos mais íntimos. Foi um amor à primeira vista e que seja “eterno enquanto dure”, como dizia o poeta. 
Fico daqui a imaginar com meus botões o quê o cometa deve ter dito à roseta no memorável encontro? Certamente reclamou que estava sendo invadido em sua privacidade e que foi vítima de um beijo roubado e forçado. Mais ainda que a casa da roseta está suja, bagunçada e cada vez mais sujeita ao aquecimento. E quem são aqueles idiotas branquelos que batem palmas?
E a ai a roseta respondeu serem seus criadores que nunca conseguiram criar a felicidade, o bem-estar e a igualdade social. O diálogo não foi muito amigável quando a roseta passou a relatar os massacres e horrores do seu pequeno planeta azul que um dia foi gelado e que agora se derrete. Falou das invenções, de prazeres do luxo, do consumismo e de coisas até boas, mas, pelo conjunto da obra, o cometa não se sentiu entusiasmado nem muito interessado em seus causos e estórias. Preferiu dormir e continuar a viajar pelo seu universo mágico e indecifrável.
Cá embaixo, o nosso planeta terra, cada vez mais desumano, depredado, egoísta e dividido em muralhas que separam seus povos desiguais, pega fogo em guerras sanguinárias entre irmãos intolerantes, como na Síria, Iraque, Ucrânia, Afeganistão e países africanos. As bombas transformaram as cidades em ruínas, e as crianças morrem entre escombros e destroços. Enquanto a intrusa roseta cativa o cometa com seu traiçoeiro namoro, na África da Somália, da Nigéria, da Líbia e da Etiópia, que sempre foi colonizada e escravizada pelos ricos do norte, as guerras e a fome afugentam os desvalidos em correntes migratórias que tentam atravessar o Mar Mediterrâneo. Centenas e milhares morrem nas travessias mortíferas das águas revoltas.
Os sobreviventes vagueiam desnorteados com seus filhos em campos de concentração e outros perambulam entre as fronteiras cercadas de arame farpado e muros. A miséria e o sofrimento estão estampados em seus rostos que pedem passagem e abrigo. Na terra das ciências e das tecnologias avançadas que fazem a roseta pousar no cometa e mantêm estações no espaço, a vida não tem valor, apenas um número.
As grandes potências que sempre invadiram e aniquilaram as nações mais pobres para delas extraírem suas riquezas naturais, geraram os próprios conflitos internos e monstros entre grupos de ditadores, rebeldes, políticos e religiosos radicais. São os mesmos países que hoje olham com desdém o cenário de terra arrasada deixada pelos genocídios no Afeganistão, no Iêmen, no Iraque e na Síria.
A grande Águia predadora de garras assassinas que espalhou o veneno do ódio com seu próprio fundamentalismo de superioridade, prepotência e arrogância, está em silêncio, acomodada em seu ninho, como se nada tivesse feito para instigar as guerras e o terrorismo pelo planeta aquecido que brinca de roseta e cometa.
O negócio deles é rosetar; fabricar foguetes, drones, bombas, tanques, fuzis, metralhadoras; construir muralhas separatistas nas fronteiras; apoiar ditadores tirânicos aliados; e propagar suas mentiras e intrigas ocidentais capitalistas, enquanto milhões de crianças na África com seus corpos esqueléticos morrem de fome.
As barbáries são financiadas pelos novos hitleres e stalins dos Balcãs da década de 90 (Sérvia e Croácia), da Rússia de Putin, dos governos norte-americanos, do ditador da Síria, do Egito e do radical Israel que encurrala os palestinos. A mesma ciência da roseta continua primitiva quando se faz mentora da corrida armamentista. É só lembrar as rosas mortíferas de Hiroshima e Nagasaki.


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