Rico em dinheiro para as castas e tão desigual no corte de gastos
Jeremias Macário | Jornalista | macariojeremias@yahoo.com.br
A PEC 241 dos 20 anos de cortes nos gastos públicos é o maior pecado mortal de todos os mandamentos fazendários de um país contra a educação e a saúde, principalmente a partir de 2018. É o método irracional mais simples de uma oligarquia burguesa egoísta para não bulir nas mordomias dos marajás entranhados há séculos nas três castas dos poderes. É mais um corte drástico da ração dada à plebe para que a deles continue vitaminada. É como rifar a criadagem para sustentar o castelo e seus reis e rainhas. >>>>>>
Ora, o Brasil tem o Congresso Nacional (um Senado que pode ser dispensado) mais caro do mundo (cada parlamentar gasta mais de 200 mil reais por mês, sem contar as assembleias e as câmaras de vereadores) e um judiciário (fora o Supremo Tribunal Federal) com 14 milhões de processos em tramitação que leva 79 bilhões de reais por ano dos contribuintes. A maior mentira é dizer que todos os poderes serão afetados.
O executivo tem milhares de comissionados e marajás que ganham salários indecentes se comparados aos de um mestre ou doutor, sem falar do mínimo passa fome que torna este país tão desigual, violento e injusto. As grandes fortunas e heranças não são tributáveis e o governo não quer cobrar as dívidas bilionárias dos grandes sonegadores porque dá muito trabalho e incomoda a elite que alicerça e sustenta o poder, ou os poderes. Nem tampouco o governo se dispõe realizar uma auditoria independente na dívida pública que já superou os três trilhões de reais.
Bastaria fazer esta manobra do cortar esta gordura obesa e cobrar de quem deve milhões e bilhões de reais e não seria necessário editar esta PEC do pecado mortal que vai garrotear mais ainda a educação e a saúde. O Brasil é um país rico em dinheiro onde as taxas de juros estão entre as mais altas do mundo e se tem uma das piores gestões de controle dos gastos, sem contar o criatório de monstros que se alimentam da corrupção.
No apertar da corda que já enforca o povo, vamos continuar pagando o máximo para um Estado que nos vai dar o mínimo do mínimo. Todo brasileiro que nasce já é por natureza um endividado, e os mais pobres quando morrem nos corredores dos hospitais, ou fora deles por falta de atendimento médico, não têm dinheiro para pagar os sete palmos do chão. É mais um Zé ninguém que se vai. A prática do genocídio serve de delírio para a elite.
Vamos citar aqui algumas distorções gritantes de uma política torta para manter a casta dos poderes, o monstro de três cabeças. A dívida pública brasileira chegou a três trilhões de reais em setembro com a colocação de títulos no mercado acima do valor gasto com o pagamento de títulos vencidos, além das despesas com juros.
Em setembro, a emissão foi de 78,34 bilhões de reais contra 16,36 bilhões de gastos com os títulos, o que significa aumento de 62 bilhões no aumento da dívida pública. As despesas com juros ultrapassaram os 29 bilhões de reais, e até o final do ano esta dívida alcançará os 3,3 trilhões. Por que não se faz uma auditoria dessa dívida para conter esta sangria?
Outra grande aberração de gastos, além do legislativo, é o judiciário. Num levantamento feito pelo Globo que avaliou as folhas salariais de agosto dos 13.790 magistrados da justiça comum, descobriu-se que três de cada quatro juízes receberam remunerações acima do teto constitucional de R$33.763 pagos aos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Vale ressaltar que a média em Sergipe chega a R$54 mil. Ali um desembargador recebeu, no mês de agosto, R$141.082,20. Na Bahia tem servidor do judiciário que recebeu, em setembro, 73 mil reais, sem contar um motorista que percebeu 26 mil. Uma pesquisa constatou que a média de salários do judiciário brasileiro é três vezes maior que no executivo, que também tem seus marajás.
Este poder gasta como se o país, literalmente falido, sem recursos para setores fundamentais, não tivesse um déficit primário aproximado de 200 bilhões de reais por ano. Por que os magistrados têm direito a auxílio-moradia e auxílio-alimentação? Na verdade, é uma casta que está acima dos cidadãos.
Veja o que diz o historiador e cientista político baiano Luiz Alberto Moniz Bandeira que está lançando “A Desordem Mundial” a respeito do judiciário. Mesmo afastados de suas funções, “continuam a receber suas elevadas remunerações, dez vezes ou mais superiores aos dos juízes da Alemanha, França, Inglaterra, Estados Unidos e outros países desenvolvidos”.
Não está aqui a conta da corrupção que atinge a cifra de bilhões e bilhões de reais saqueados dos cofres públicos, incluindo ladrões da merenda escolar, da saúde, do bolsa família, da educação e de outros setores essenciais que visam reduzir as desigualdades sociais.
Caso houvesse uma disposição política firme de um governo legitimamente comprometido em fazer justiça social, combater o roubo com penas pesadas e acabar com estas castas vampirescas do nosso dinheiro, não precisaria fazer esta PEC que constitui mais retalho na nossa já remendada Constituição, a qual está a rogar por outra nova, feita não pelos políticos que ai estão.
Ainda tem gente de barriga cheia que diz em palestras e livros de auto-ajuda que o brasileiro que não tem auto-estima é pessimista e reclamão. Afinal, estamos todos na nau dos insensatos com poucos íntegros que ainda pregam a igualdade social. Lamentável é o silêncio dos bons. Estamos atravessando um desfiladeiro cheio de emboscadas.