Pirão de Buchada
Nando da Costa Lima
um biriteiro que tinha fama de matador explicava pra outro bêbado: “Pra matar um safado você tem que enfiar a faca na terceira costela de baixo pra cima e esperar o sacana estrebuchar, senão não dá gosto!”. Dizia aquilo como se tivesse coragem de fazer… Seu Genaro viajante não cansava de se gabar dos vinte seguros contra enchente que ele vendeu no Guigó. Ouvídio, que já tinha mais de oitenta anos e só dormia bêbado, tava contando a sétima das nove transadas que tinha dado na noite anterior. Tudo acontecendo como em todo buteco que se preze… Graças à paciência de Ortêncio, a fome voltou, agora era só esquentar a boia e fundar dentro, já tinha esquecido por completo de Nozim. Fez um prato dobrado e sentou-se no balcão, a comida chegava a sair fumaça! Mas aí o destino tornou a aprontar outra: é que o menino voltou da porta de casa, tinha esquecido de dar um recado. Ortêncio tentou correr pro quintal com o prato, mas o moleque gritou assim que ele deu as costas: “Tenho um recado de pai pro senhor”. Ortêncio nem se virou pra evitar a cara de Nozim, e de costas pediu pra que ele desse o recado e fosse embora, estava muito tarde! Aí ele abriu o verbo: “Pai mandou dizer que não veio pagar a conta porque tá com uma caganeira retada, tá saindo até sangue! Mas disse que assim que melhorar vem pagar, o coitado tá parecendo que comeu pirão dormido”. Nessa noite, depois de quinze anos de espera, os cachaceiros do bar de seu Ortêncio foram homenageados com um tira-gosto de pirão de buchada por conta da casa. Graças a Nozim!..
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