Programa de índio
Nando da Costa Lima
Não sei porque usamos o termo “programa de índio” quando estamos nos referindo a alguma coisa que não agrada. Acho o termo não muito apropriado, mas que existem programas que deixam o indivíduo arrependido de estar participando, existem. Nada pior do que sair para se divertir e ocorrer o contrário, e isto acontece com todo mundo. É o caso daquele amigo que você tinha como um ídolo. Enquanto estava guardado no baú do pensamento, ele era ótimo, mas depois de encontrá-lo e tentar reatar uma amizade antiga, notar que seu amigo cresceu e tornou-se um panaca que fala besteira o tempo todo e ainda por cima gosta de recitar as letras das músicas da “jovem guarda”. O pior é ter que passar o dia com ele, isso sim é programa de dar raiva. Mas existe coisa pior, como um rapaz que foi convidado para passar férias com uma família amiga, passou dez dias apartando tudo que é tipo de briga que um casal pode arrumar. O pior é que além de perder os amigos, foi praticamente expulso da casa como causador das brigas, segundo o casal o astral dele tava influenciando negativamente no convívio diário. Este nunca mais aceitou convite pra nada!
O ruim do programa furado é o fator surpresa, você vai esperando o melhor e ocorre exatamente o contrário. O cidadão depois de vários anos sem tirar férias resolve levar a família pra passar uns dias na praia, quando chega lá não encontra hospedagem, tem de ir pra um camping e
alugar uma barraca. O sol tinha ido embora com sua chegada, da hora que ele desceu do carro até a partida não parou de chover por um minuto, e pra completar os três meninos acharam de adoecer (catapora), O homem tava uma pilha de nervos, e quando o guarda do parque veio avisá-lo que seu carro tinha sido roubado, ele não suportou: voltou das férias numa camisa de força.
Teve um sujeito que recebeu uma terra de herança e a terra ficou lá sem ninguém cuidar. Um dia a mulher do herdeiro resolveu conhecer a propriedade, reuniu a família, levou até o cachorro e partiu pra um final de semana na roça. Trezentos quilômetros de estrada de chão. Quando chegou no lugar não acreditou, o parente havia deixado uma ladeira de pedra que não prestava nem pra enterrar cachorro doido, não tinha nem um casebre pra passar a noite. Voltar não dava, o jeito era dormir no carro, ele, a mulher, os meninos e o cachorro… o cachorro não, na descida do carro uma cascavel deu fim no bichinho e por isso os meninos ainda choravam. O casal já estava naquela de achar motivo para brigar em tudo, mas como estava tarde resolveram dormir. Quando estavam cochilando, sentiram alguém bater no teto do carro e perguntar: “Quem é que herdou esta terra de João Ignorância?”. Ele respondeu cochilando: “Sou eu”. O homem então identificou-se: “Eu sou Pedro Grosso, estou aqui porque jurei capar todo parente dele que aparecesse por aqui, e acho melhor o Sr. Ir logo tirando as calças porque isto é briga antiga”. Só não voltou pra casa capado porque teve um infarto e o capador teve de levá-lo pro hospital, ele não ia capar um defunto. O herdeiro escapou com vida, mas hoje em sua casa é proibido falar de herança, muito menos ir em programas arrumados pela mulher.
O programa furado persegue o homem em tudo até nas aventuras perigoas, como um bonitão que vinha rodando a mulher do vizinho há muito tempo. Um dia o programa teve tudo pra dar certo, o marido saiu pra jogar, ele aproveitou a deixa e partiu pra cima. Tudo ia bem até baterem na porta: era o marido com amigos. Eles resolveram jogar ali mesmo, e quando resolviam jogar não ficavam menos de três dias apostando. O bonitão teve que ficar escondido dentro do armário dois dias. No terceiro dia não suportou e caiu de dentro do armário pro meio da sala. O coitado levou uma surra tão bem dada que até hoje ninguém sabe se o rapaz morreu de fome ou da surra. Só que quem deu a surra foi um dos amigos do marido. Este notou o amigo mais enciumado que ele e viu que tinha alguma coisa errada, já estava mais enciumado que namorado de miss, e perguntou com raiva: “Por que você tá tão retado? Eu sou o marido e já me dou por vingado”. O amigo olhou pra ele e falou naturalmente: “É aquela safada a culpada, tinha jurado nunca mais trair ‘a gente'”. Este programa terminou em tragédia.
Ninguém escapa de uma barca furada ou um programa de índio, como queira. Ninguém pode adivinhar o que vai acontecer, mas existem programas que você sabe que não devia fazer, como: assistir jogo de solteiro e casados, ir em feijoada beneficiente, brigar com a polícia, ir em festa que tem mágico, ir a show de lambada, assistir filme policial mexicano, almoçar em churrasco de candidato, discutir com bêbado, casar com herança…
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