Setembro amarelo: Suicídio precisa ser visto como
uma questão de saúde pública
Correio 24hUma tragédia na última segunda-feira chamou a atenção do país: Nabor Coutinho Oliveira, 43, matou a esposa, os dois filhos (de 10 e 6 anos) e, em seguida, teria se jogado da varanda no condomínio onde a família morava, na Barra, no Rio de Janeiro. O familicídio seguido de suicídio ainda está sendo investigado, mas chamou atenção pela violência e pelo fato de que Nabor parecia estar sob pressão extrema. Mesmo sendo tratado como um tabu, o suicídio é um grave problema de saúde pública em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde(OMS), 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos. Desse total, para cada tentativa consumada há, pelo menos, outras 20 tentativas fracassadas. O Brasil é o oitavo país, nas Américas, em número de mortes autoimpostas.
Com o objetivo de promover a vida e prevenir o suicídio, teve início no dia 1º, o Setembro Amarelo. A iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria pretende, ao longo de todo o mês, promover várias ações de sensibilização da população e os profissionais de saúde para os sintomas desse problema e para a saúde mental. A iniciativa nacional conta com a parceria da Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho Federal de Medicina (CFM), Federação Nacional dos Médicos (Fenam), entidades regionais e suas federadas, além da participação da sociedade civil organizada.
Em Salvador, hoje, inclusive, haverá uma ação do Centro de Valorização da Vida (CVV), no Dique do Tororó, com distribuição de balões amarelos, cor da campanha. No dia 8, uma mesa-redonda Suicídio: Como Abordar e Prevenir, na sede do Sindimed,em Ondina, às 19h30. Desde o dia 1º, o Elevador Lacerda está iluminado de amarelo para lembrar à cidade a necessidade de tratar o problema com a seriedade que ele merece.
Tabu
Para a diretora da Associação de Psiquiatria da Bahia, a médica Sandra Peu, as iniciativas pretendem dar visibilidade para essa questão que ainda não é vista como um problema de saúde, mas uma fraqueza de conduta ou de personalidade. “O suicídio nunca é motivado apenas por um episódio de vida, mas por um conjunto de situações, onde o indivíduo tenta chamar atenção para sua condição de sofrimento”, diz a médica, lembrando que cerca de 80% das pessoas que cometeram suicídio, dias antes estiveram na presença de algum profissional de saúde. “Queremos, sobretudo, chamar atenção desses profissionais para os pedidos de socorro desses pacientes”, diz.
Todos os dias pelo menos 32 brasileiros tiram a própria vida, resultado da falta de prevenção que poderia ter poupado pelo menos 28 dessas pessoas. São dados do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) que causam espanto, mas retratam uma realidade de tabus e mitos. Em todo o mundo, estima-se que ocorra um suicídio a cada 40 segundos.
Essa é mais uma razão para se quebrar o tabu do suicídio, problema de saúde pública que mata pelo menos um brasileiro a cada 45 minutos e pode ser prevenido em nove de cada dez casos, segundo a OMS. Trazer a público a problemática do suicídio, esclarecer que pensar no assunto é mais comum do que se pensa, tem prevenção, é possível pedir ajuda e quais são os sinais de que uma pessoa pode caminhar para esse ato.
Prevenção
Sandra Peu ressalta que as doenças mentais possuem um impacto muito significativo no suicídio e que o problema tem aumentado entre os jovens, que sofrem com a
hiperexposição imposta por uma sociedade altamente midiatizada e a pressão de responder rapidamente a todas as demandas dessa mesma sociedade. “Os últimos dados demonstram que 35,8% dos casos de suicídios foram provocados por transtornos do humor(depressão e a bipolaridade), 22,4% fruto do abuso das substâncias psicoativas, 10,6% pela esquizofrenia e 11,6% por transtornos de personalidade. Esse quadro mostra que a questão precisa ser encarada de frente pela sociedade”, argumenta a médica, destacando que até bem pouco tempo era proibido sepultar suicidas e que os seguros de vida não cobrem quando há o suicídio. “Muitas vezes, o profissional de saúde não notifica por não considerar ou por desconhecer que algumas mortes não são acidentes de trânsito, intoxicação externa e sim suicídio”, pontua.
O voluntário e membro do Centro de Valorização da Vida João Eudes reforça a postura da médica e lembra a importância de uma escuta atenta na prevenção do suicídio. “Há 54 anos, o CVV trabalha no Brasil e há 28 estamos na Bahia, ouvindo e acreditando na capacidade que cada um tem para garantir a sua própria recuperação”, diz, ressaltando que o trabalho dos voluntários não é de aconselhamento, mas de escuta sem julgamentos.
Para Sandra Peu, esse tipo de auxílio é importante e funciona porque uma vez que o indivíduo consiga desabafar, ele fica esvaziado das ideias de morte e não comete o ato de retirar a própria vida.
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